sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

intromissão na conversa entre Sócrates e Fedro, já mortos, sobre Eupalinos, também a essa altura talvez já morto, por Valéry.

Fazia da luz um mecanismo incomparável, dissipando-a, simulava formas inteligíveis e uma quase música no espaço onde se movem os mortais. Semelhante a esses oradores e poetas de que você falava ainda agora, ele conhecia, Sócrates, a misteriosa virtude das modulações imperceptíveis. Ninguém percebia, diante do sutil alívio de um peso, de aparência assim simples, que estava sendo conduzido a um certo tipo de ventura, graças às curvas diminutas, de inflexões ínfimas e todo-poderosas; e graças a essas profundas combinações do regular-irregular que uma vez fixadas se escondem, tornando-se tão imperiosas como eram indefiníveis. Elas faziam o espectador perturbado, entregue à sua presença invisível, passar de visão em visão, de grandes silêncios aos murmúrios do prazer, na medida em que avançava, e se recolhia, e se reaproximava então, errante, magnetizado pela obra, guiado apenas por ela, mero joguete da contemplação. – É preciso, dizia o homem de Mégara, que meu templo mova os homens, assim como (os mo)ve o objeto amado.

Sócrates: Isso é divino.

Il préparait à la lumière un instrument incomparable, qui la répandit, tout affectée de formes intelligibles et de propriétés presque musicales, dans l’espace où se meuvent les mortels. Pareil à ces orateurs et à ces poètes auxquels tu pensais tout à l’heure, il connaissait, ô Socrate, la vertu mystérieuse des imperceptibles modulations. Nul ne s’apercevait, devant une masse délicatement allégée, et d’apparence si simple, d’être conduit à une sorte de bonheur par des courbures insensibles, par des inflexions infimes et toutes-puissantes ; et par ces profondes combinaisons du régulier et de l’irrégulier qu’il avait introduites et cachées, et rendues aussi impérieuses qu’elles étaient indéfinissables. Elles faisaient le mouvant spectateur, docile à leur présence invisible, passer de vision en vision, et de grands silences aux murmures du plaisir, à mesure qu’il s’avançait, se reculait, se rapprochait encore, et qu’il errait dans le rayon de l’œuvre, mû par elle-même, et le jouet de la seule admiration. - Il faut, disait cet homme de Mégare, que mon temple meuve les hommes comme les meut l’objet aimé.

Sôcrate : Cela est divin.
[VALÉRY, Eupalinos]