e não vale acordar
quem acaso repouse
na colina sem árvores.
Contudo, esta é uma carta.
meu amor, entre as árvores que secam
eu te procuro, você não está mais
aqui,
e este inverno que você queria
agora cresce sozinho nas margens de minha memória.
choveu, você sabe.
a montanha que levava teu nome
lançou em direção ao sol sua grande massa triunfante.
choveu. a água
inundou os caminhos. mais uma vez,
no chão duro
o torpor das conchas.
eu te procuro, já
larguei tudo.
a casa está cega apesar da luz.
fria também,
apesar de todo fogo, secretamente
atingida por tua ausência.
que outro caminharia,
senão eu? já passou
senão eu? já passou
a hora.
um homem se preocupa com o que ama
e o que ama
o sustém mais alto além de si.
é tarde, agora,
para dizer tudo, para salvar algo, talvez.
eu vou,
não quero te esquecer
mas já fiquei tão longe.
diga-me que a estrada é bela,
você, meu amor, entre as árvores que desabam.
choveu, você sabe,
sobre todas as palavras que eu guardei pra você.
sobre todas as palavras, esse leito de silêncio
ou aflição.
é o medo tão pequeno
com seus dedos. eu o conheço desde sempre
e toda vez
ele asfixia meu coração
quando você se afasta.
as palavras que sobram são palavras
de pavor. meu amor,
só quero que você me aqueça, nesse invvvferno
entre as palavras que tremem.
é noite agora,
sobre todas as árvores do jardim. os galhos
quebram. a casa.
é noite pra sempre, porque
caminho só
nesse jardim, e apenas a noite
glacial me acolhe.
não sei o que em mim
só quer me lembrar
que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois.
meu amor,
ainda que tão longe,
encontra-me entre a mesmice dos dias.
PS: Did it make you ache so leaving me?
PS: Did it make you ache so leaving me?
PS2: E sem nenhum sinal dessa água que o sol secou mas de cujo contato ainda me sinto friorento e meio úmido (penso agora que seria mais justo, do mar do sonho, dizer que o sol o afugentou, porque os sonhos são como as aves porque crescem e vivem no ar). [J.C.]
Voyage d'hiver
Ô mon amour, parmi les herbes qui blanchissent
Je te cherche, tu n'es plus
là,
et cet hiver que tu voulais
grandit seul maintenant sur les marges de ma mémoire.
Il a neigé, sais-tu.
La montagne qui portait ton nom
lance vers le soleil sa haute masse triomphante.
Il a neigé. Le givre
envahit les chemins. C'est à nouveau
dans le sol dur
le même assoupissement des coquilles.
Je te cherche, j’ai
tout laissé.
La maison est aveugle malgré les lampes.
Froide aussi,
malgré tous le feux, secrètement
blessée par ton absence.
qui d'autre
marcherait que moi ? Il est tard
dans le temps.
Un homme se soucie de ce qu'il aime
et ce qu'il aime
le maintient plus haut que lui.
Il est tard, maintenant,
pour dire tout, pour le sauver peut-être.
Je marche, j'ai
marché.
Dis-moi que ce voyage est beau,
toi, mon amour, parmi les herbes qui blanchissent.
Il a neigé, sais-tu,
sur tous les mots que je gardais pour toi.
Sur tous les mots, c'est une couche de silence
ou de détresse.
C'est la peur si petite
avec ses doigts. Je la connais depuis toujours
et chaque fois
elle étouffe mon cœur
quand tu t'éloignes.
Les mots qui restent sont des mots
d'effroi. Ô mon amour,
réchauffe-moi parmi ces mots qui tremblent.
C'est la nuit, maintenant,
sur tous les arbres du jardin. Les branches
cassent.
C'est la nuit pour toujours, puisque
je marche seul
dans ce jardin, et que la nuit
m'enferme dans sa glace.
Ô mon amour, mon amie
de si loin
retrouve-moi parmi les jours qui se ressemblent.
[ESTEBAN, “Voyage d’hiver”]